terça-feira, 21 de agosto de 2012

Sopa de Pedras - Histórias de Pedro Malazartes - Histórias que fazem parte do folclore brasileiro


SOPA DE PEDRAS


Pedro Malasarte era um cara danado de esperto. Um dia ele estava ouvindo a conversa do pessoal na porta da venda. Os matutos falavam de uma velha avarenta que morava num sítio pros lados do rio. Cada um contava um caso pior que o outro:
-- A velha é unha-de-fome. Não dá comida nem pros cachorros que guardam a casa dela – dizia um.
-- Quando chega alguém pro almoço, ela conta os grãos de feijão pra pôr no prato. Verdade! Quem me contou foi o Chico Carreteiro, que não mente – afirmava outro.
-- Eta velha pão-duro! – comentava um terceiro. – dali não sai nada. Ela não dá nem bom-dia.
O Pedro Malasarte ouvindo. Ouvindo e matutando.
Daí a pouco entrou na conversa:
--Querem apostar que pra mim ela vai dar uma porção de coisas, e de boa vontade?
-- Tu ta é doido? – disseram todos. – Aquela velha avarenta não dá nem risada!
-- Pois aposto que  pra mim ela vai dar – insistiu Pedro. – Quanto vocês apostam?
A turma apostou alto, na certeza de ganhar. Mas o Pedro Malasarte, muito matreiro, já tinha bolado um plano na cabeça. Juntou umas roupas, umas panelas, um fogãozinho, amarrou a trouxa e se mandou pra casa da velha. Era meio longe, mas pra ganhar aposta o Malasarte não tinha preguiça.
O Pedro foi chegando, foi arranchando, ali bem perto da porteira do sítio da velha. Esperou um tempo pra ser notado. Quando viu que a velha já tinha reparado nele, armou o fogãozinho, botou a panela em cima, cheia de água, e acendeu o fogo. E ficou o dia inteiro cozinhando água.
A velha, lá da casa, só espiando. E a panela fumegando.
E o Pedro começou a atiçar o fogo. [...]
Até que ela não conseguiu mais se segurar de curiosidade. Saiu e veio negaceando, olhar de perto. O Pedro pensou: “É hoje!”
Catou umas pedras no chão, lavou bem e jogou dentro da panela. E ficou atiçando o fogo pra ferver mais depressa.
A velha não se conteve:
-- Oi, moço, ta cozinhando pedra?
-- Ora, pois sim senhora, dona! – respondeu o Pedro. – Vou fazer uma sopa.
-- Sopa de pedra? – perguntou a velha com uma careta. – essa não, seu moço! Onde já se viu isso?
-- Pois garanto que dá uma sopa pra lá de boa.
-- Demora muito pra cozinhar? – perguntou a velha ainda duvidando.
-- Demora um bocado.
-- E dá pra comer?
-- Claro, dona! Então eu ia perder tempo à toa?
A velha olhava as pedras, olhava pro Pedro. E ele atiçando o fogo, e a panela fervendo. A velha meio incrédula, meio acreditando.
-- É gostosa, essa sopa? – perguntou ela depois de um tempo.
-- É – respondeu o Malasarte. – Mas fica mais gostosa se a gente puser um temperinho.
-- Por isso não – disse a velha. – Eu vou buscar.
Foi e trouxe cebola, cheiro verde, sal com alho.
-- Tomate a senhora não tem? – perguntou o Pedro.
A velha foi buscar e voltou com três, bem maduros. Pedro botou tudo dentro da panela, junto com as pedras. E atiçou o fogo.
-- vai ficar bem gostosa – disse ele. – Mas se a gente tivesse um courinho de porco...
-- Pois eu tenho lá em casa – disse a velha. E foi buscar.
Couro na panela, lenha no fogo, a velha sentada espiando. Daí a pouco ela perguntou:
-- Não precisa pôr mais nada?
-- Até que ficava mais suculenta se a gente pudesse umas batatas, um pouco de macarrão...
A velha já estava com vontade de tomar a sopa e perguntou:
-- Quando ficar pronta, posso provar um pouco?
-- Claro, dona!
Aí ela foi e trouxe o macarrão e as batatas. O Malasarte atiçou o fogo, pro macarrão cozinhar depressa. Daí a pouco a velha já estava com água na boca!
-- Hum, a sopa ta cheirando gostosa! Será que as pedras já amoleceram? Em vez de responder, o Pedro perguntou:
-- A senhora não tem uma linguicinha defumada? Ia ficar tão bom...
Lá foi a velha de novo buscar a lingüiça.
Cozinha que cozinha, a sopa ficou pronta. Malasarte então pediu dois pratos e talheres, a velha trouxe.
O Pedro encheu os pratos, deu um pra ela. Separou as pedras e jogou no mato.
-- Ué, moço, não vai comer as pedras?
-- Tá doido! – respondeu o Malasarte – Eu lá tenho dente de ferro pra comer pedra?
E tratou de se mandar o mais depressa que pôde. Foi correndo pra venda, cobrar o dinheiro da aposta.


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